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Num bordado, o essencial da sua definição tem a ver com os pontos que o concretizam num determinado desenho, motivo ou padrão. Todavia, na execução desses pontos podem verificar-se técnicas de diversa ordem, denunciando um maior ou menor profissionalismo, uma maior ou menor exigência.
Na generalidade, qualquer bordadeira borda, quase sempre, sem bastidor. Um bastidor é um auxiliar da técnica de bordar que pode assumir diversas formas. Os mais simples são constituídos por dois aros de madeira, quase do mesmo tamanho que, ao encaixarem um no outro, entalam o tecido. Ao manter o pano igualmente esticado em todas as direcções, o uso do bastidor facilita o apuro do bordado, evitando as distorções e enrugamentos do tecido devido ao trabalhar dos pontos. Este bastidor, pequeno, fácil de arrumar e transportar, não se torna cómodo ou agradável de usar e, muitas das vezes, só se utiliza na execução de um particular ponto, mais exigente, e não de todo o bordado. Para facilitar o seu uso, há quem o prenda pressionando-o entre o peito e o rebordo de uma mesa, o que permite bordar com as duas mãos, uma colocada por cima, do lado direito do bordado e outra por baixo, pelo avesso. Todavia, a bordadora, assim que pode, abandona-o e recomeça a bordar com o tecido apoiado no dedo indicador da mão esquerda (no caso de ser dextra). O bordado executa-se então quase só com a mão que segura a agulha, onde se encontra a linha que está a ser usada. Já o Bordado de Castelo Branco, por exemplo, é feito num bastidor de outro tipo, mais profissional, que funciona como uma mesa rectangular, onde o tampo é constituído pelo próprio tecido a bordar. Neste caso, dos bastidores de pé, a bordadeira fica com as duas mãos livres e não tem que ter uma postura rígida, pois o bastidor sustenta-se por si mesmo. O grande inconveniente deste utensílio é o espaço que exige e a dificuldade no seu transporte: não é nada que se pegue e se leve com facilidade de um local ou para outro, de uma divisão para outra.
Vem isto a propósito da engenhosidade das bordadeiras da Terra de Sousa. Só compreendendo o modo como se coloca o problema se pode valorizar devidamente a solução encontrada. É que estas bordadeiras bordam no papelão. É assim que toda a gente diz e é preciso ver para acreditar.
Há muito mais de cem anos, quando esta produção se terá iniciado, os bordados eram, não só extremamente elaborados, como se dirigiam a um mercado constituído por pessoas de uma enorme exigência. As senhoras que então compravam as peças bordadas eram, na sua generalidade, elas mesmas, embora amadoras, exímias bordadeiras, pois que nessa altura a educação das meninas pressupunha incontáveis horas a aprender a bordar. Quanto mais requintada e cuidada era a sua educação, mais percebiam e sabiam de bordado. Quando as bordadeiras da Terra de Sousa começaram a bordar para este mercado tiveram que resolver a questão da qualidade e apuro do seu trabalho. Se nunca tivessem aprendido a bordar correctamente, com um bastidor de pé, essa questão não se lhes colocaria, mas depois de bordar num, é difícil, senão impossível, bordar com a mesma qualidade, sem esse extraordinário apoio. Todavia, nas suas casas pequenas, sobrepovoadas de crianças, onde era preciso correr de janela a janela a aproveitar a luz do dia, com a multiplicidade de tarefas da sua vida doméstica, a necessidade de poder transportar o trabalho de um lado para o outro impunha-se e, com isso, a necessidade de transportar o próprio bastidor.
Nada se sabe de quem terá sido a gloriosa invenção hoje em uso. O que é certo é que, mantendo as suas características, merecia e deveria ser melhorada. Imagine-se uma revista, ou um jornal dobrado em quatro. Fica-se com um a pequena superfície, de cerca de 20 centímetros por uns 30. Esta superfície, que apresenta alguma maleabilidade, mas não excessiva, é então forrada com o papelão propriamente dito, tradicionalmente o papel dos sacos de farinha, mais grosso que papel de embrulho normal mas que ainda se deixa atravessar por uma agulha. É nesta almofada, que não chega a ter a espessura de um dedo, que a bordadeira prega o serviço ou seja, cose o tecido já riscado ao papelão, definindo, com alinhavos, um círculo mais ou menos perfeito. Depois é só bordar, poisando o papelão em cima de uma mesa, ou ao colo, no caso de estar sentada baixa. E a bordadeira borda. E borda muito. E borda muito bem, com as duas mãos pelo direito do tecido: a mão esquerda (no caso de ser dextra) segura a linha, o que levanta ligeiramente o tecido favorecendo a execução dos pontos com a mão direita. O bordado assim executado nunca fica arrepiado, com gelhas e a tensão dos pontos regula-se melhor sem provocar distorções e favorecendo um bom resultado final.
Esta técnica do papelão é a grande responsável pela permanência e uso de tantos e tão variados pontos no maior centro produtor de bordado de Portugal Continental, muitos deles especialmente difíceis de fazer e que, em todos os outros locais, foram abandonados pelos problemas levantados pela sua execução. Foi o papelão que permitiu a conservação de um completíssimo vocabulário técnico mantendo em uso essa enorme variedade de pontos, o que confere a este centro produtor a sua principal característica identitária, não igualada por nenhum outro.
Viver! E não ter a vergonha De ser feliz Cantar e cantar e cantar A beleza de ser Um eterno aprendiz... Eterno Aprendiz/Gonzaguinha
PARA REFLEXÃO
"Há três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida"
"Não existe jardim completo e perfeito. E sim, a vontade de tornarmos melhores jardineiros" Raul Cânovas
"A nossa maior glória não reside no fato de nunca cairmos, mas sim em levantarmo-nos sempre depois de cada queda." Confúcio
"Aprendi através da experiência amarga a suprema lição: controlar minha ira e torná-la como o calor que é convertido em energia. Nossa ira controlada pode ser convertida numa força capaz de mover o mundo." Mahatma Gandhi
"Não existe jardim completo e perfeito. E sim, a vontade de tornarmos melhores jardineiros" Raul Cânovas
"A nossa maior glória não reside no fato de nunca cairmos, mas sim em levantarmo-nos sempre depois de cada queda." Confúcio
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Algecira Castro